Durante mais de duas décadas, o HDMI reinou absoluto como padrão para transmissão de áudio e vídeo em dispositivos eletrônicos. Mas essa hegemonia pode estar perto do fim. Um novo tipo de conexão, desenvolvido por um consórcio de gigantes chinesas, promete não só substituir o HDMI, mas também transformar radicalmente a forma como conectamos nossos aparelhos. Trata-se do GPMI, sigla para General Purpose Media Interface.
Anunciado em abril de 2025 pela Shenzhen 8K UHD Video Industry Cooperation Alliance, o GPMI é apoiado por empresas como Huawei, TCL e Hisense. Mais do que uma evolução técnica, o novo padrão nasce com ambições geopolíticas claras: quebrar a dependência global de tecnologias desenvolvidas e licenciadas por consórcios formados por empresas ocidentais, que controlam o uso dessas tecnologias e cobram taxas de fabricantes que queiram adotá-las.
Na prática, o GPMI oferece desempenho impressionante: largura de banda de até 192 Gbps e fornecimento de energia de até 480W. Isso representa o dobro da capacidade máxima do HDMI atual e também supera o USB-C mais potente. O diferencial não está apenas na velocidade, mas na proposta de unificar vídeo, áudio, dados e energia em um único cabo, como uma solução “tudo em um”.
Diferente do HDMI, que exige royalties e taxas de licenciamento, o GPMI será gratuito para os fabricantes. Essa mudança de modelo de negócios pode ter impacto direto nos custos de produção de eletrônicos, o que, em última instância, pode se traduzir em dispositivos mais baratos para o consumidor final. Atualmente, fabricantes precisam pagar até US$ 10 mil por ano só para utilizar o padrão HDMI, além de royalties por unidade vendida.
Outro ponto estratégico está na variedade de conectores que o GPMI pretende adotar. A versão Type-C, compatível com portas USB-C, facilitará a adoção em dispositivos já existentes, ainda que limitada a 96 Gbps e 240W. Já a versão Type-B, com conector proprietário, atinge o desempenho máximo prometido, incluindo suporte a resoluções de até 16K a 120Hz, algo inédito no mercado atual.
Apesar de suas promessas, o GPMI ainda enfrenta uma série de obstáculos para se consolidar fora da China. O ecossistema HDMI está profundamente enraizado, com suporte de grandes fabricantes como Sony, Samsung e LG, que ainda não demonstraram apoio público ao novo padrão. Além disso, questões políticas e comerciais podem dificultar a adoção em países ocidentais, especialmente diante das tensões entre China e EUA no campo da tecnologia.
Ainda assim, a compatibilidade com USB-C pode se revelar uma vantagem importante. Em mercados onde o USB-C já é dominante, como smartphones, notebooks e tablets, a transição para o GPMI pode ser mais fluida. A integração de recursos como rede em cadeia (daisy chain) e comunicação bidirecional entre dispositivos também aponta para usos em ambientes profissionais e industriais, além do consumidor doméstico.
Especialistas destacam que o GPMI pode não apenas rivalizar com o HDMI, mas também substituir outros padrões, como o DisplayPort, comum em monitores de alta performance, e o Thunderbolt, presente em computadores de alto desempenho e estações de trabalho profissionais. Essa convergência tecnológica, se bem-sucedida, pode simplificar a cadeia de produção e fomentar uma nova geração de aparelhos mais compactos e versáteis.
Embora ainda não esteja disponível comercialmente, a expectativa é que os primeiros protótipos com suporte ao GPMI apareçam até o fim de 2025. A experiência com o HDMI, no entanto, mostra que novas tecnologias podem levar até dois anos para chegar ao consumidor final em escala global.
Fonte: Estadão